A capital paraense está repleta de obras que cada vez mais são compreendidas, no contexto da História da Arte, como Arte Pública. Trabalhos artísticos que assim são definidos por se encontrarem em espaços de grande circulação, que pertencem às ruas e às praças, que modificam as paisagens urbanas de forma permanente ou temporária.
A exemplo de grandes cidades da América Latina, em Belém é possível encontrar expressões artísticas públicas que remetem aos séculos XVII, XVIII, XIX e XX. Trazem consigo memórias, valores políticos, celebrações de temas e personagens ligados às estruturas de poder e a própria história do Estado e do País. Falamos dos monumentos, erguidos nas praças, as esculturas monumentais em bronze, mármore ou ferro. A maioria assinada por artistas, escultores, de fora do Pará e do Brasil, quase sempre europeus.
Entretanto, apesar desta reconhecida produção de manifestações artísticas no espaço urbano, observa-se um número escasso de estudos que possam revelar mais sobre a memória e as experiências com esta forma de Arte no Pará, além de um processo intenso de intervenções, seja pela crescente urbanização, pelas pichações e grafitagens, ou pelo descaso e abandono que estão submetidos na atualidade a maioria desses monumentos. Assim, como problema central observamos a necessidade de superar o desconhecimento sobre o significado dos monumentos históricos de Belém.
Para alcançar este objetivo, idealizamos um projeto que buscasse resgatar a memória dos monumentos de Belém, como meio de estimular o pensamento acerca do significado dos monumentos na contemporaneidade. Para nortear nossas reflexões, trabalhamos com as compreensões de Canclini (2006) acerca dos monumentos históricos na América Latina. O autor convida a refletir quando observa que nos estudos e debates sobre a modernidade latino-americana, a questão dos usos sociais do patrimônio continua ausente e que diante da magnificência de certos bens “não ocorre a quase ninguém pensar nas contradições que expressam” (CANCLINI, 2006, p.160).
Por meio do patrimônio, Canclini mostra a teatralização do poder e o patrimônio teatralizado como um “esforço para simular que há uma origem, uma substância fundadora, em relação a qual deveríamos atuar hoje” (idem, p.162). Uma representação que revela também as bases de políticas culturais autoritárias, capazes de apresentar o mundo como um palco, onde o que deve ser representado já está inscrito.
Na América Latina, patrimônios representariam, inclusive, os rastros de uma cultura predominantemente visual embalada por uma época em que o analfabetismo já foi majoritário. Entretanto, ao se deter sobre os monumentos que tomam os espaços urbanos, Canclini pontua que na atualidade podemos observá-los por meio de uma série de tensões entre a memória histórica e a trama visual das cidades modernas. Se antes os monumentos eram, junto com as escolas e os museus, um “cenário legitimador do culto tradicional” e quase sempre obras com que o poder político consagrara as pessoas e os acontecimentos fundadores do Estado, hoje a vida moderna transgride a cada momento a ordem das coisas. Isso porque os monumentos, por estarem em local público, “estão abertos à dinâmica urbana, facilitam que a memória interaja com a mudança, que os heróis nacionais se revitalizem graças à propaganda ou ao trânsito [...]” (CANCLINI, 2006, p.301).
Da fundamentação teórica ao empírico, avançamos na pesquisa de campo, centrada sobre um grupo de 14 monumentos pré-definidos, através da realização de pesquisa bibliográfica e documental realizada na Biblioteca Pública do Estado, no Arquivo Público do Estado, no Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural, na Biblioteca do Museu Histórico do Estado do Pará, na Biblioteca do Museu de Arte de Belém e na Fundação Cultural de Belém. Assim, foi realizado um rico trabalho de mapeamento e catalogação de informações envolvendo os 14 monumentos de Belém: Chafariz das Sereias, na Praça da República; Monumento ao Índio, na Praça Santos Dumont; Monumento ao Frei Caetano Brandão, na Cidade Velha; Monumento ao médico Gama Malcher, na Cidade Velha; Monumento ao General Gurjão, na Praça D. Pedro II, no bairro do Comércio; Monumento a Lauro Sodré, no complexo de São Brás; Pavilhão Harmônico 1º de Dezembro, na Praça Batista Campos; Monumento Relógio de Ferro, na Praça Siqueira Campos, no bairro do Comércio; Monumento à República, na Praça da República; Memorial da Cabanagem, no bairro do Entroncamento; Memorial ao Magalhães Barata e Coluna da Infâmia, no bairro de São Brás; Monumento ao Waldemar Henrique, localizado na praça de mesmo nome, no bairro do comércio; e Alegorias Femininas, em diversos logradouros de Belém. Também foi realizado registro imagético sobre estes monumentos.
Parte das informações pesquisadas e dos registros em imagens disponibilizamos neste site, como um meio de socializar o conhecimento produzido na UFPA e oferecer um espaço digital de pesquisa sobre a memória e o patrimônio paraense.
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