CHAFARIZ DAS SEREIAS ENTRE SIMBOLISMOS E POLÍTICAS DE ABASTECIMENTO
No Complexo da Praça da República, em Belém, está o Chafariz das Sereias um dos monumentos mais misteriosos da Amazônia. A começar pelo simbolismo. Na Mitologia Grega, as sereias são seres fantásticos, metade mulher, metade pássaro para uns ou metade peixe para outros escritores e poetas. São tidas como ninfas marinhas que atacavam as embarcações que passavam entre a ilha de Capri e as costas da Itália, levando os marinheiros à morte com seu belo canto.
O poema Odisséia, de Homero, um dos principais épicos gregos, faz referências a estes seres fantásticos. Neste poema, a feiticeira Circe prepara Ulisses e sua tripulação de marinheiros para o grande encontro com as ninfas marinhas, ensinando-os como se proteger do fascínio que causavam ao entoar sedutoras melodias: "Ai daqueles que têm a imprudência de escutar seus gorjeios melodiosos. (...) Passa junto das sereias e, para melhor defender a tripulação do teu barco, tapa com cera os ouvidos dos homens, para que nada escutem da música. Tu poderás ouvir se quiseres. Mas, antes manda que te amarrem ao mastro do navio com boas e sólidas cordas".
Assim, desde a antiguidade até os dias de hoje, as sereias sempre fizeram parte do imaginário da humanidade. No Brasil, especialmente, na Amazônia, surgem associadas às figuras de Iemanjá, de mães-d'água e das Iaras.
MONUMENTO
Na capital paraense, a história do Chafariz das Sereias, que integra o complexo da Praça da República, no bairro da Campina, vem permeada de mistérios. Vários autores afirmam que a partir do relatório apresentado pelo então intendente da capital, Antônio José de Lemos, ao conselho municipal de Belém, na sessão de 15 de novembro de 1905, o Chafariz das Sereiasteve sua estrutura concluída em 1904. Este relatório, entretanto, não nomina o chafariz, mas o contexto do relato parece referir-se às Sereias, quando afirma que se trata de um monumento em estilo Art Nouveau e importado da Europa (ANDRADE, 2003; BASSALO, 2008; SOARES, 2009).
Por outro lado, a história do monumento parece estar, também, mais vinculada à própria política de abastecimento de água da cidade. Em 1876, Francisco Maria Corrêa de Sá e Benevides, presidente da província do Pará, em relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial, reconhece que água potável é uma reivindicação antiga e que já estava em curso, desde 1872, um estudo sobre os mananciais de onde deveria ser extraída a água.
No contrato firmado entre o governo do Pará e Francisco Maria Cordeiro, vice-cônsul dos Estados Unidos, na Corte do Rio de Janeiro, e o senhor José Villa Flor, há, inclusive, referência a Lei 632 de 13 de outubro de 1870, que obriga a empresa contratada a instalar oito chafarizes para abastecer a população.
Neste contrato, ressalta-se ainda que os chafarizes devam ter diferentes tamanhos, materiais e formatos. Em todos os chafarizes "a água se venderá ao preço nunca mais de vinte réis por cada barril de 25 litros, pouco mais ou menos".
Em pronunciamento, na abertura da sessão extraordinária da Assembléia, no dia 7 de janeiro de 1884, o general visconde de Maracajú, presidente da província do Pará, afirma que dia 1º de outubro de 1884 começará a ser feita a venda de água por meio da Companhia das Águas do Gram-Pará. São anunciados oitos lugares de venda. Entre os quais, um localizado no Largo da Pólvora, também denominado Praça D. Pedro II, hoje Praça da República.
LOCALIZAÇÃO



